O café, apelidado carinhosamente de “ouro negro” no Brasil, transcendeu sua identidade como uma mera commodity para se tornar um emblema de qualidade e sofisticação. A jornada do café brasileiro, desde as vastas plantações até as xícaras dos consumidores, é uma história de transformação e valor agregado.
Historicamente, o café foi a espinha dorsal da economia brasileira, um produto exportado em grandes quantidades para saciar a sede mundial por esta bebida estimulante. Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado uma revolução silenciosa no cultivo e na comercialização do café.
Produtores dedicados têm se afastado das práticas de cultivo em massa, optando por métodos que enfatizam a qualidade e o sabor únicos. O resultado é um café especial, muitas vezes orgânico e de origem única, que é vendido não apenas por seu peso, mas por sua história e seu perfil de sabor distinto.
Essa mudança tem sido impulsionada por uma nova onda de apreciadores de café, que buscam mais do que apenas uma dose de cafeína. Eles procuram uma experiência, um momento de prazer que só um café de alta qualidade pode proporcionar. As cafeterias especializadas atendem a essa demanda, transformando-se em espaços onde o café é tanto uma arte quanto uma ciência. Nesses locais, baristas treinados preparam cada xícara com precisão meticulosa, garantindo que cada gole seja uma experiência em si.
O impacto dessa tendência é palpável. As cafeterias especiais têm se multiplicado, tornando-se pontos de encontro onde as pessoas não apenas bebem café, mas também se conectam umas com as outras. Elas são incubadoras de cultura e comunidade, onde ideias são compartilhadas e relacionamentos são formados. Esses estabelecimentos têm contribuído significativamente para a economia local, gerando empregos e oferecendo oportunidades para pequenos produtores e empresários.
Um exemplo notável dessa evolução é o Café Fest, que celebra sua 4ª edição em Goiânia. Este evento, que teve início na sexta (19) e segue até domingo (21), é uma vitrine do que o café brasileiro tem a oferecer e reúne aficionados, especialistas e curiosos. Workshops, degustações e competições são apenas algumas das atividades que destacam a diversidade e a riqueza do café brasileiro. Para o idealizador e organizador, Pablo Jaime Campos, o Café Fest não é apenas um evento. É um testemunho da paixão que o Brasil tem pelo café e do potencial que ainda está por ser explorado.
“Percebemos que todo ano o goianiense mostra cada vez mais como ele é apaixonado por café. Nosso mercado vem desenvolvendo, e isso pode ser notado pela proporção do evento, que possui mais de 60 empresas expositoras, palestras, experiências sensoriais, competições e degustação de cafés especiais. Nossa expectativa é de duplicar o público em relação ao ano passado, com 10 mil visitantes ao fim dos três dias de evento”, afirma.
“Diversidade de Aromas, Encontros e Sabores” é o tema do Café Fest deste ano. Pablo explica que a temática é comum no café especial, que é a multiplicidade de sabores, a ideia de conectar o consumidor final a essa múltipla experiência de sabor e entender que café não precisa ser só preto e amargo. “Há inúmeras possibilidades, e com as diversas degustações durante o evento o participante terá experiências sensoriais ricas e complexas que envolvem todos os sentidos, criando um momento único, que faz da degustação de café uma atividade que vai além do simples ato de beber uma bebida. É uma oportunidade para desacelerar, apreciar o momento e se conectar com a complexidade e a beleza que uma xícara de café pode oferecer”, enfatiza Pablo.
O evento possui a participação de empresas nacionais de Minas Gerais, Rondônia, São Paulo, Goiás e apaixonados por cafés de todas as partes do país. Em Goiás, o organizador ressalta a produção de café em aglofloresta em Cristalina e também em Rio Verde, com a Fazenda Mata do Lobo, ambas que produzem cafés de excelência. “Temos outras regiões com bastante potencial competitivo, como na Chapada dos Veadeiros, que também podem fortalecer e ampliar a produção de café especial no estado”, diz.
Uma das premissas do Café Fest, conforme Pablo, é potencializar os negócios dos micro, pequenos e médios empreendedores, já que são eles que melhor movimentam o comércio. Para ele, é essencial que um encontro como esse facilite a integração entre os elos e que essas empresas possam ter com apoio dos parceiros maturidade e experiência para atrair cada vez mais público, movimentando a economia e o turismo nas cidades.
O Sebrae Goiás é apoiador do evento e está junto com 20 cafeterias especiais de pequeno porte. A gerente da Regional Central, Larissa Ribeiro, que representou a diretoria da instituição, frisou a importância em promover os pequenos negócios e dar visibilidade aos potenciais de mercado que o estado possui, como as cafeterias especiais e algumas empresas de torrefação.
“Neste evento, que é de mercado, é essencial que esses empreendedores participem ativamente desse cenário e percebam as oportunidades, o comportamento dos negócios do segmento, como cada empresa está inserida estrategicamente e realizem network importante para o desenvolvimento de negociações e parcerias”, explica. Ela salienta ainda, que o Café Fest proporciona uma conexão entre os participantes que é muito positiva, já que favorece a interligação entre os elos da cadeia produtiva.
A Muy Café é uma empresa de torrefação goiana que participa da 4ª edição do Café Fest Cerrado. O sócio-diretor Sávio Nunes conta que esteve na terceira edição, que já foi grande, e a expectativa é ainda maior para este ano. “O evento se consolida a cada vez, com maior espaço, mais empresas e estandes o que mostra a força do Centro-Oeste”, acredita. A Muy Café, que possui apoio do Sebrae, é uma empresa de torrefação de cafés especiais. Eles fazem a curadoria de cafés verdes pelo Brasil todo, visitam as maiores e melhores fazendas e trazem para Goiás para torrar esses grãos e encontrar o melhor sensorial possível que o grão verde pode entregar.
“O trabalho de torra é um dos pilares fundamentais do café, e a gente na sequência, enfim, revende para o consumidor final e para cafeterias. Com o apoio do Sebrae o evento deu um salto, houve uma conexão com mais marcas, com mais pessoas e isso tudo faz com que a gente tenha mais facilidade de viabilizar negócios com sinônimo de excelência e experiência e todos têm a ganhar com isso”, afirma Sávio.
Calendário de turismo e pesquisa
Durante a abertura oficial do evento, o deputado estadual Virmondes Cruvinel entregou uma placa com a Lei Estadual nº 21.982 de sua autoria, que inclui no Calendário Cívico, Cultural e Turístico do Estado de Goiás o Café Fest Cerrado, realizado, anualmente em Goiânia. Participaram ainda da abertura Vinícius Estrela, diretor-executivo da Brazilian Specialty Coffee Association (BSCA); Eliene Xavier, assessora do presidente da Goiás Turismo, Fabrício Amaral; Rose Cruvinel, ex-vereadora e adoradora de cafés; Márcio Zago, coordenador técnico de Gastronomia do Senac Goiás; e Thaís Correa, gerente de Marketing do Shopping Cerrado.
Depois da abertura oficial, a gestora estadual de Turismo do Sebrae Goiás, Priscila Vilarinho, apresentou a pesquisa Cafés Especiais Perfil e Sabor, realizada pelo Sebrae Nacional em 2024. A pesquisa foi feita com 1.355 participantes de 24 estados e revelou insights sobre as interações e as dinâmicas entre os elos da cadeia produtiva desde os produtores rurais e o baristas. “Entre esses insights, o estudo mostra que há mais uma confiança comercial do que conexão afetiva e que há a necessidade de se criarem mais pontes nessa cadeia para que ela seja cada vez mais integrada e fortalecida”, ressaltou Priscila.
Essa pesquisa, segundo a gestora, traz inspirações até para empreendedores de cafeterias especiais. “Para o Sebrae, isso é muito importante, pois também estamos trabalhando com uma Rota de Cafeterias Especiais na capital. Goiânia é mais uma possibilidade de ampliação de mercado e de modelagem de negócio para esses empreendimentos. Goiás tem se destacado e possui todas as possibilidades de participar desse movimento de cafés especiais de qualidade no Brasil e no mundo”, analisa.
Dados sobre o café
O café brasileiro é muito conhecido e tradicional por conta de um trabalho consistente do Brasil há mais de 200 anos, que se transformou no maior produtor e o maior exportador do grão. De acordo com Vinícius Estrela, diretor-executivo da Brazilian Specialty Coffee Association (BSCA), o país participa com cerca de 40% no mercado global e o desafio é a agregação de valor para esse café e é nesse sentido que surge o movimento de café especial e da origem Brasil.
Das cerca de 60 milhões de sacas produzidas no país, o Brasil produz 8 milhões de sacas de café especiais, sendo 7 milhões dessas sacas, dedicadas à exportação, principalmente para o mercado europeu, que compra 40% do café brasileiro. Outros 50% são exportados para os Estados Unidos e o restante vai para a Ásia, com destaque para o Japão e Coreia do Sul, e mais recentemente para a China, que alcançou o sexto lugar em termos de destino de exportações para o café.
Em relação à produção interna, Vinícius conta que Minas Gerais responde por cerca de 50% da produção, mas outras diferentes regiões tem ganhado destaque, seja pelo aumento do volume ou pela qualidade. “A gente destaca Goiás, com a região de Cristalina, também destacamos a Bahia com a região de Piatã, as tradicionais regiões do Cerrado Mineiro, em Minas Gerais e também o Norte Pioneiro do Paraná, dentre outras regiões, como Caparaó, no Espírito Santo, que vem produzindo cafés especiais de altíssima qualidade”, enfatiza o diretor executivo da BSCA.
Para Vinícius, Goiás possui, sem sombras de dúvidas, condições importantes para o cultivo de café, como a latitude, a variabilidade climática na região da Chapada dos Veadeiros, e que é possível projetar a região sobre a ótica de cafés de qualidade, dos cafés especiais.
“É importante ressaltar que o café é a cultura que melhor remunera o pequeno produtor e o Brasil é um exemplo disso. O café da Etiópia e da África é bastante famoso, mas eles ficam com cerca de 20%, 30% do valor de comercialização do grão. Na Colômbia, em torno de 50% a 60%. No Brasil a gente está falando em cerca de 80%. Então, o café no Brasil tem o poder de gerar renda. Manter um homem no campo com dignidade e permitir com que com café especial com o nome do produtor possa estampar os pacotinhos aqui em Goiânia em qualquer lugar do mundo. Que o Sebrae Goiás consiga apoiar todos esses produtores desde o início em todo o ciclo”, finalizou.
SERVIÇO
4ª EDIÇÃO DO CAFÉ FEST CERRADO
Data: até 21/04
Local: Shopping Cerrado – Av. Anhanguera, 10790 – Aeroviário, Goiânia
Informações: @cafefest_cerrado
Ingressos: https://abrir.link/UkPBL
INFORMAÇÕES PARA A IMPRENSA
Na sede do Sebrae: Taissa Gracik – (62) 3250-2263 / 9887-5463
Na Regional Central | Goiânia: Agência Entremeios Comunicação / Adrianne Vitoreli – (62) 98144-2178
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