Com o brilho nos olhos azuis, emoção de uma criança e com uma beleza e elegância natas, a artesã goiana Alda Mariano Fernandez, de 87 anos, esteve no Espaço Sebrae, na 26ª edição da Casa Cor. Acompanhada da filha também artesã, Rita de Cássia Álvarez Mariano, ela percorreu cerca de 120 quilômetros entre Corumbá de Goiás (Leste Goiano) até a capital para visitar a mostra, que é considerada o maior evento de arquitetura, design e paisagismo da América Latina.
Acompanhada de um grupo de Corumbá de Goiás foi ver de perto o trabalho feito por diversos artesãos goianos e os próprios trabalhos que estão no espaço. Alda expõe no local colchas feitas de crochê. “São tantos trabalhos lindos aqui que fico emocionada. Todos feitos pelas mãos de pessoas com tanto carinho para levar arte para a casa das pessoas. Não têm dinheiro que pague o amor que cada um deixou em sua peça”, ressalta.
De acordo com dona Alda, estar em um evento dessa proporção, é um sonho e ela diz estar agradecida pela oportunidade. “Estar aqui me traz várias ideias do que posso fazer de agora em diante”, disse a artesã. A filha confirma. “Ela vai voltar para a casa com um turbilhão de possibilidades e rapidamente vai colocá-las em prática”, garante.
Mãe e filha estavam acompanhadas da profissional de relações públicas da Sociedade dos Produtores de Cultura de Corumbá de Goiás, Paula Gardênia Dias Fernandes e da artesã Rosalina Divina da Silva Rocha, que produz cestas e que também está com trabalhos expostos no Espaço Sebrae. Elas contaram com o apoio da Secretaria de Educação e Cultura do município para chegar até Goiânia.
Com as marcas nas mãos de quem crocheteia há dezenas de anos, dona Alda conta que também é pintora de telas. Adora pintar a natureza, o verde, as flores e as paisagens. “Gosto muito da natureza e o verde, as cores, tudo me inspira”, afirma a artesã. A filha, Rita, conta que quando ela menos espera, vários lugares da casa viram telas, como as portas de um guarda-roupa ou do armário.
Atualmente as duas estão restaurando uma casa que foi comprada em Corumbá, um antigo chalé, construído por volta de 1945, tombado pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A garagem, que na época guardava um dos únicos caminhões FNM (conhecido como fenemê) pelo proprietário descendente de franceses, que fazia fretes na região, vai se tornar em breve o Ateliê Casa que Cria, local de produção e venda de muita arte.
E de onde vem tanta energia, tanta saúde e vontade de produzir arte aos 87 anos? Dona Alda responde sem pestanejar que a força vem do marido, o espanhol Manuel Álvarez Fernandez, com quem foi casada 45 anos. “Ele era um desbravador, aventureiro, trabalhador, sonhador, apaixonado pelo Brasil e que mesmo doente viveu ainda mais intensamente conosco os últimos seis anos de vida. Foi com ele e por nossa família que estou firme, feliz com o que eu faço e vivo a vida com alegria e disposição. Às vezes eu tenho lágrimas e pensamentos doloridos, mas logo meus dedos começam a se mexer e as agulhas ou o pincel me ajudam. Como diz aquela música, eu seguro na mão de Deus e vou”, explica a artesã que também poderia ser poeta.
Aprendizado com história de filme
Diferente da maioria das crocheteiras artesãs do país, dona Alda Mariano Fernandes aprendeu a fazer primeiro tricô com uma americana, Emma Bowen, em Anápolis. Emma era irmã do Capitão Leek Bowen, considerado herói de guerra americano e marido da atriz e escritora Joan Lowell, que atuou no filme mudo The Gold Rush (Em Busca do Ouro), com Charles Chaplin e escreveu o best seller ‘Cradle of the Deep’, uma autobiografia.
Joan visitou o Brasil em 1935 e em 1937, durante o período conhecido como a Marcha para o Oeste, a atriz, o marido e a cunhada se instalaram na região da Vila Propício e foram os primeiros imigrantes famosos a fixar moradia em Anápolis. Aos 10 anos, a artesã aprendeu os primeiros pontos de tricô enquanto a mãe cuidava da casa da fazenda dos americanos, que era vizinha a de seus pais. A mãe de dona Alda produziu as linhas com algodão e a agulha foi feita pelo pai, com um aro de bicicleta. Naquela época, de guerra, por volta de 1945, era quase impossível encontrar material, ainda mais no interior.
Dona Alda conviveu com muitos outros famosos na época. O Capitão, além de coordenar a construção de rodovias, incentivou a vinda de muitos americanos para o local, como a atriz Janet Gaynor, que participou de quase 40 filmes e ganhou o Oscar em 1929 pela atuação em três filmes. Ela era esposa do figurinista Gilbert Adrian. Mary Martin, dançarina e cantora, mãe de Larry Hagman, premiado ator do filme “Jeannie é um Gênio”, também foi vizinha dos pais da artesã goiana.
Aos 19 anos a artesã se mudou para Brasília e foi uma das primeiras telefonistas do Hotel Nacional, onde trabalhou por anos, até conhecer o marido. Moraram no Mato Grosso, em Belém, participaram do Projeto Carajás (foram os primeiros a fazer parte da equipe com a montagem de um restaurante). Passaram por muitas aventuras, mas dona Alda nunca deixou de produzir o que ela chama de terapia. “A arte de tricotar, bordar, pintar eu aprendi com os americanos e vim de uma família muito criativa, mas a força para me levar em frente foi do meu ‘Manolo’, minha filha e agora com minha neta”, conclui.
Informações para a imprensa
Na sede do Sebrae: Adriana Lima – (62) 3250-2263 / 99456-2491
Na Regional Central | Goiânia: Agência Entremeios Comunicação / Adrianne Vitoreli – (62) 98144-2178
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