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Tecnoshow: especialista defende foco em pastagens para melhorar produtividade da pecuária

Produtor rural e mestre em ciência animal e pastagens, Felipe Moura deu dicas para abrir novas oportunidades para agricultores
Por Redação, em Rio Verde
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Enquanto a agricultura inova em pacotes tecnológicos e nos investimentos para aumento da produtividade e a pecuária se volta para o melhoramento genético e o uso de insumos para incremento na produção, um fator que pode ser comum às duas atividades ainda recebe pouca atenção dos produtores rurais, apesar do seu alto potencial de uso: a pastagem. Com esse olhar, o engenheiro agrônomo e mestre em ciência animal e pastagem pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), Felipe Moura, apresentou a palestra “Seu pasto é lavoura”, dentro da programação de atividades da Tecnoshow Comigo, em Rio Verde (GO), nesta quinta-feira (30).

“Eu sou produtor, sempre vivi do boi e sempre trabalhei com integração de lavoura com pecuária, mas nesse ponto da minha vida a gente está difundindo a importância do produtor trabalhar com pastagem. Mas não é só pastagem, é trabalhar como se o pasto fosse uma lavoura”, ressaltou. Ele explicou que é importante que o produtor enxergue os gargalos de sua propriedade e que o pecuarista trate a pecuária como a agricultura, considerando a ordem certa de trabalho. “Você não vê nenhum agricultor que não entenda de soja ou de milho, ele sabe o que está fazendo”, completou.

Felipe Moura, engenheiro agrônomo e mestre em ciência animal e pastagem pela Esalq/USP

Ele afirmou que existem alguns mitos em torno do assunto, como questões de alto investimento. “Existe uma confusão muito grande de que a primeira coisa que as pessoas relacionam com tecnologia é valor alto de investimento. E não é verdade. Às vezes você dividir um pasto da fazenda no meio é uma baita adoção tecnológica, porque ele começa a poder colher aquele pasto melhor. Tudo o que leve ao direcionamento de controle, de aferimento e de que o produtor consiga enxergar o que ele está fazendo é tecnologia”, destacou. “Tecnologia é, por exemplo, eu pesar meu gado e anotar. A gente conhece quantas fazendas que não tem balança no curral. A balança é um extrato da sua conta na fazenda. Quando não tem aferido essa produção interna, eu não sei quanto está produzindo a minha fazenda, não sei o custo do meu quilo ou da minha arroba e dependo só de preço do mercado. Só que o mercado você não interfere. Agora dentro da fazenda você determina.”

Sabendo dos dados, o palestrante também ressaltou a importância de saber exercer o potencial biológico da fazenda. “Se você tem uma fazenda em Santana do Livramento na divisa com o Uruguai, é campo que só tem afloração de rocha. Você sabe que ali você não vai plantar soja, então você nem vai imaginar dados de produção ali. Mas se aquele ambiente me permite produzir 100 quilos de carne/hectare/ano e eu produzo, sou altamente produtivo. Mas eu não posso comparar aquele ambiente com um produtor que planta milho e soja, safra-safrinha aqui. São máquinas completamente diferentes”, exemplificou. “Agora, se eu estou em um lugar que eu tenho potencial de produzir mil quilos de carne por hectare/ano e eu produzo 500 eu sou improdutivo porque meu ambiente consegue fazer com que eu produza a mais. Um produz 1/5 do outro, mas é produtivo, enquanto o outro produz cinco vezes mais do que o primeiro e é improdutivo”, complementou.

Lavoura e pecuária

Felipe Moura defendeu em sua palestra cenários de integração entre lavoura e pecuária como uma alternativa para potencializar as duas produções a partir do investimento em pastagens. “Às vezes, as pessoas demoram a pegar no tranco para entender que o produtor, na soja, ele tem uma colheitadeira e ele vai colher tudo sem deixar um grão no chão e na pecuária as colheitadeiras são os bois, as vacas, os bezerros e você tem várias colheitadeiras por hectare, mas que não vão colher direito. Então, um colhe tudo, o outro deixa a metade para trás, 60%, 70% em uma ineficiência de pastejo. Você tem que saber comparar. Agora, quando a gente integra os dois, esse é o melhor cenário. Integração Lavoura-Pecuária (ILP) pra mim é o pulo do gato para todas as regiões do Brasil”, enfatizou.

Ele trouxe, como exemplo, uma situação no Rio Grande do Sul, quando em áreas em que são plantadas soja no verão, durante o inverno, foram cultivadas pastagens de azevém, de aveia, que entraram logo na sequência da soja. “Esses resultados de hoje têm sido muito bons porque a gente já está fazendo o uso desse pasto no inverno com os animais e como mais uma estratégia de adubação da próxima soja, com essa cultura de inverno”, reforçou. “Toda essa parte de adubação, ela vai solubilizando ao longo do período de pastejo do inverno pré e próximo plantio de soja. Isso tem uma série de benefícios em termos de solubilidade de nutrientes, porque a hora em que você vai integrando as duas e vai adubando o sistema, as duas pontas são benéficas.”

O mesmo, segundo o especialista, pode ser aplicado nas regiões de produção tropical. “É com aveia, com azevém? Talvez não, mas funciona com braquiária. Eu posso ter um pasto de inverno, onde teoricamente, não teria nada, e com tecnologia eu posso conseguir pecuária no inverno, uma pecuária de 100 dias. Estamos chamando isso de lavoureiro de boi, porque é o produtor que é agricultor e que ele só precisa ter uma lavoura de boi por 100 dias, ele não precisa virar pecuarista”, defendeu. “Para o pecuarista virar agricultor é mais difícil, porque não tem máquina, não tem trator, nem pessoas. Ele não sabe dominar isso. Mas para o agricultor ir para o boi é muito fácil. Aí a integração entra como uma luva”, finalizou.

Sobre a Tecnoshow Comigo

Com a proposta de auxiliar o produtor rural, a COMIGO iniciou, em 2002, o trabalho de geração e difusão de tecnologias agropecuárias, em Rio Verde, numa área que hoje ultrapassa 170 hectares (área total do CTC). Neste local, a cooperativa promove experiências tecnológicas o ano todo, em parceria com diversas instituições de pesquisa, de ensino e outras empresas, e realiza a Tecnoshow. A diversidade é uma marca registrada do evento. São máquinas e equipamentos agropecuários, plots agrícolas, animais das mais variadas espécies, palestras técnicas e econômicas, ações socioambientais e dinâmicas de pecuária, entre outros produtos e serviços. Trata-se de uma extensa vitrine de tecnologias para o homem do campo, seja pequeno, médio ou grande produtor.

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