Novembro, Mês da Consciência Negra, destaca a importância de um olhar mais atento e transparente para os dados que mostram as desigualdades raciais no país. Em Goiás, esse retrato ganha contornos mais evidentes com o estudo “O Retrato do(a) Empreendedor(a) Negro(a) Goiano(a)”, elaborado pelo Sebrae. O levantamento mostra que o estado conta hoje com mais de 625 mil empreendedores(as) negros(as), um crescimento de 6% entre 2017 e 2025.

Esse avanço também é impulsionado pelas ações de inclusão e fortalecimento promovidas pelo Sebrae Goiás, como o Programa Plural, que atua diretamente com grupos sub-representados. Nesse contexto, o empreendedorismo negro se consolida como uma força essencial para a economia local, ampliando a diversidade e estimulando a inovação no mercado. Com apoio adequado e políticas inclusivas, o potencial de crescimento e sustentabilidade desses negócios tende a se expandir, beneficiando não apenas os empreendedores, mas toda a comunidade.
Esse apoio no desenvolvimento dos negócios desenvolvidos pela população negra é fundamental, pois mesmo representando 65% da população goiana, pessoas negras empreendem proporcionalmente menos: 16% contra 20% entre brancos. Em escala regional, a presença negra é majoritária no empreendedorismo do Norte (81%), Nordeste (73%) e Centro-Oeste (60%).
O perfil do empreendedor negro goiano revela os desafios adicionais que marcam essa trajetória. Entre eles, 67% são homens e 33% mulheres; 46% concluíram o ensino médio, 31% têm ensino fundamental, e apenas 21% acessaram o ensino superior. A faixa etária predominante está entre 40 e 59 anos, e 60% são chefes de família, um dado que carrega grande peso emocional e financeiro. Apenas 14% são empregadores, evidenciando estruturas mais frágeis, negócios menores e menor capacidade de expansão. Os setores de Serviços (43%) e Comércio (23%) concentram a maioria das atividades.
Em relação à renda, o estudo mostra diferenças importantes entre os grupos. Em 2025, empreendedores negros receberam, em média, R$ 3.403, valor 38% menor que o dos empreendedores brancos, R$ 5.498. Entre as mulheres negras, o cenário é mais sensível: rendimentos sempre abaixo de R$ 3 mil, 34% menores que os de homens negros empreendedores, 46% menores que os de mulheres brancas empreendedoras e 58% menores que os de homens brancos empreendedores Elas trabalham em média 35 horas semanais, contra 41 horas dos homens negros. Ainda assim, ganham menos, uma contradição histórica que atravessa gerações.
Quando os números ganham nome
Essa desigualdade se materializa em trajetórias como a de Dione Lopes e Natasha Gonçalves, fundadores da ABBA Fisioterapia. Em Goiânia, eles participaram do Programa ALI do Sebrae Goiás (https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/agentelocaldeinovacao) que oferece consultoria gratuita e personalizada para micro e pequenas empresas, ajudando a inovar, melhorar processos e aumentar produtividade.

O desejo de empreender acompanhou Dione desde a infância. Na faculdade, colegas reforçavam a ideia de que ele teria seu próprio negócio. Dione conta que, ao se formar, em 2016, a realidade foi dura. Desempregado, começou a atender pacientes sem sala, sem equipamentos e sem estrutura. Atendia no chão, com autorização de uma professora que lhe disse que não precisava de mais que isso para começar. “Era só o que eu tinha. O que eu ganhava mal cobria o motoboy que o levava aos atendimentos”, lembra.
O primeiro impulso veio com um aporte inesperado de R$ 60 mil, feito por um investidor que acreditou no seu potencial. Ainda assim, Dione e Natasha enfrentaram barreiras, como o acesso ao crédito, apontado pelo estudo como um dos grandes gargalos para empreendedores negros. “Para o negro as coisas são mais difíceis, e não é apenas uma questão cultural. Se fosse um branco, talvez teria conseguido antes”, conta Dione.
A responsabilidade de ser chefe de família, papel exercido por 60% dos empreendedores negros, dado que também aparece no relatório, ganhou contornos ainda mais intensos quando Natasha engravidou em plena pandemia. Com despesas acumuladas e a incerteza do período, Dione trabalhava até a exaustão, “mas não podia desistir, porque minha esposa e minha filha dependiam de mim.” Em 2022, deixou o emprego formal e dedicou-se integralmente à criação da clínica.
Natasha, por sua vez, conta que vive diariamente dificuldades que afetam as mulheres negras. “Esses dados fazem parte da minha realidade”, afirma. Ela aprendeu a se posicionar e a valorizar seu trabalho em ambientes que, historicamente, não reconhecem plenamente a capacidade de mulheres negras. “Isso me impulsiona. Me faz construir um negócio que abra caminho para outras mulheres negras prosperarem’, acrescenta.
O caso da ABBA Fisioterapia mostra o impacto de políticas públicas consistentes. Enquanto o Programa Plural atua na inclusão produtiva de grupos sub-representados, utilizando o empreendedorismo como ferramenta para transformar realidades locais e promover o desenvolvimento sustentável, o Programa ALI fornece estrutura para que empreendedores transformem resiliência em resultados. O Sebrae Goiás também conecta empreendedores a instituições financeiras, e oferece orientações qualificadas sobre educação financeira (https://www.sebraego.com.br/financas/). É essa combinação, suporte institucional, técnica e determinação, que permite que negócios liderados por pessoas negras avancem, cresçam e permaneçam.
O Mês da Consciência Negra reforça que reconhecer essas barreiras é apenas o primeiro passo, transformá-las, com ações estruturadas e oportunidades, é o que determina o futuro. Histórias como a de Dione e Natasha, e iniciativas promovidas pelo Sebrae Goiás mostram que esse caminho já começou a ser construído e que seu impacto vai muito além dos números.
SERVIÇO
Link do estudo: https://lojavirtual.sebraego.com.br/loja/biblioteca-digital/10578-pesquisa-retrato-do-empreendedor-negro-2025
INFORMAÇÕES PARA A IMPRENSA
Na sede do Sebrae: Taissa Gracik – (62) 99887-5463 | Kalyne Menezes – (62) 99887-4106
Na Regional Sudoeste | Rio Verde e Jataí: Vivianne Oliveira / Agência Entremeios Comunicação – (62) 98174-9881
Acesse aqui o Site do Sebrae Goiás.
Siga-nos em nossas redes sociais: Instagram, Facebook, YouTube e LinkedIn
-
