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Artesãos mostram na CASACOR que “De Tudo Se Faz Arte”

No Espaço Sebrae, painelistas contaram suas histórias sobre como a arte chegou para cada um de que forma trabalham de forma sustentável, ressaltando a importância da conservação ambiental
Por Adrianne Vitoreli, de Goiânia
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Galhos, cipós, elementos naturais do cerrado e de outros biomas, metais que não têm nem mais serventia, papel, vidro, plásticos, madeiras de fundos de rios e de descarte da construção civil, capim colonião. Matérias-primas que não são padrão, mas que nas mãos de verdadeiros artesãos/artistas em Goiás são transformados em peças de arte com diversas referências. Sim, “De Tudo Se Faz Arte” foi a conclusão – e o tema – do talk show que aconteceu na noite de terça-feira (06) na 26ª edição da CASACOR na capital goiana, no lounge do Espaço Sebrae.

Os artesãos participantes do evento reunidos

O bate-papo reuniu renomados artesãos que fazem parte do Programa de Artesanato e Economia Criativa do Sebrae: Viníciu Fagundes; Andréa Caetano e Maicon Soares; Elismar Santos; e Ricardo Santiago, com mediação da consultora e uma das responsáveis pela curadoria curadora do Programa de Artesanato e Economia Criativa do Sebrae Goiás, a analista Cynthia Bretas.

O evento contou com a participação especial de Juão de Fibra, um dos artesãos mais conhecidos em Goiás e que trabalha com trançados de capim colonião, na região do Entorno do DF e que faz parte dos selecionados no Prêmio Top 100 de Artesanato do Sebrae Nacional.

Viníciu Fagundes é engenheiro ambiental, mestre, doutor, professor e perito ambiental do Ministério Público em Goiás. Ele se denomina artista popular porque não estudou arte e começou a produzir despretensiosamente quadros durante a pandemia. “Para não enlouquecer com tantas notícias ruins, procurei alguma coisa manual para ocupar minha cabeça”, explicou. Com elementos naturais do Cerrado, como cápsulas (frutos secos, envoltórios das sementes das árvores) e restos de árvores (de ipê verde, jequitibá, guatambu, entre outros), ele criou diversos quadros, e pessoas mais próximas, como a família e amigos, começaram a incentivá-lo a apresentar seu trabalho nas redes sociais.

Juão de Fibra e Viníciu Fagundes: materiais do Cerrado são base para o trabalho

“Levei cinco meses para criar coragem e colocar as fotos de algumas peças na Internet. Com muita vergonha, porque sou engenheiro e tinha receio do que meus alunos iriam pensar”, contou. Com a criação do Estúdio Tutóia, nunca mais parou de produzir arte. Ele lembra que para sua sorte teve a honra de conhecer Daniela Caixeta, gestora do Programa de Artesanato e Economia Criativa do Sebrae Goiás, em uma exposição em Brasília, no mesmo dia em que conheceu Juão de Fibra, o que era um sonho.

Dali em diante, o artesão lembra que começou a expor trabalhos nas feiras parceiras do Sebrae. Em 2021, participou de uma feira em Belo Horizonte, mas foi no Rio de Janeiro, no Centro de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB Sebrae) que as portas efetivamente se abriram. Atualmente tem seis peças na decoração na novela das 21h da TV Globo, Terra e Paixão, está pela terceira vez na CASACOR, vendas pelas redes sociais para todo Brasil e para outros países. Além disso, foi ele quem criou ano passado, 27 troféus (totens botânicos) para Prêmio Goiás Sustentável, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. “E já recebi convite para expor no espaço Janete Costa, na maior feira de artesanato da América Latina, a Fenearte, no fim do ano.”

Natureza inspira a arte

Cipós e pedaços de troncos e galhos que ficam nos rios se transformam em luminárias e belas esculturas feitas pelo tempo e pela força da água e com o olhar atento do artesão. É assim que trabalha Elismar Santos Souza, que já foi açougueiro e churrasqueiro gourmet e atualmente é um empreendedor do ramo de segurança. Ele também é palestrante em abrigos e igrejas. Depois de muito resistir, resolveu investir parte de seu tempo em arte. “Encontrei na natureza minha paixão pela arte. É a natureza que me inspira. Observo e recolho os troncos nos leitos dos rios, galhos esculpidos por cupins cipós entre outros elementos”, explicou.

Elismar Santos Souza resolveu investir parte de seu tempo em arte

O artesão conta que encontra rotineiramente sua matéria-prima na paisagem, nas estradas, à beira de rios. Desde 2018 trabalha com arte, mas depois que conheceu o Sebrae Goiás, sua vida mudou. “Existe um Elismar antes e um depois do Sebrae, e o aprendizado, conhecimento e apoio que tenho da entidade que me levou a eventos e feiras, e é o que me faz estar aqui na CASACOR, que era um objetivo que tinha desde que comecei a trabalhar no segmento”, enfatizou.

Para ele, o Sebrae mostra o caminho, capacita o artesão como empreendedor e a única coisa que cobra é o engajamento no Programa de Artesanato e Economia Criativa, para que os participantes busquem sempre a melhoria das obras. “O Sebrae está sempre de portas abertas, sem distinguir raça, cor, posição social. Quem tem vontade vai para os lugares mais altos, os que não querem ficam estagnador”, reforça.

Do descarte à arte

Esse é o slogan do trabalho realizado por Andrea Caetano, arquiteta e urbanista que é produtora cultural, esposa e sócia de Maicon Soares, artista plástico e artesão de Aparecida de Goiânia. Eles trabalham desde 2015 com o conceito de ressignificar metais diversos e transformar esculturas únicas e sustentáveis seguindo os conceitos da Upcycle Art (técnica que exige horas de exploração e experimentos sobre os materiais e suas possibilidades, assim como tempo para coletar os resíduos).

“Costumo dizer que prolongamos a vida útil de todo tipo de metal que não tem mais serventia. Então falar sobre ‘De Tudo se faz Arte´ para nós faz muito sentido. Estamos aqui para mostrar que com criatividade é possível produzir diversos tipos de peças”, ressaltou Andrea, que, em parceria com Maicon, já executou dois monumentos em praças públicas em Aparecida de Goiânia, uma delas inaugurada recentemente, Dom Quixote e Sancho Pança. O monumento está localizado na Praça da Espanha, na Vila São Tomaz.

Andrea Caetano, que trabalha com o objetivo de ressignificar materiais

Eles já venderam mais de 2 mil esculturas e já participaram de diversas exposições individuais em locais como Fórum Criminal e Cível, Tribunal Regional Eleitoral, Biblioteca da Universidade Federal de Goiás (UFG), nos campi de Goiânia e em Jataí. O casal também já exportou esculturas para países como Espanha, República Dominicana, Portugal e Estados Unidos. Andréa lembrou que eles participaram da CASACOR 2022, e um cliente olhou todas as obras, mas não comprou nenhuma peça. Ao fim do ano, ele entrou em contato e comprou todas as peças para ele. “Participar da CASACOR rende também no pós-venda e isso é maravilhoso. Agradecemos ao Sebrae pela oportunidade e pela confiança no nosso trabalho. Sozinhos, muitos não conseguem caminhar e chegar até aqui.”

Potencial criativo e arquitetura

Com os conhecimentos adquiridos com formação em arquitetura e urbanismo, pós-graduação em engenharia de segurança do trabalho, atuação na construção civil, e docência no curso de design de interiores em faculdade, Ricardo Santiago desenvolve pesquisas desde 2015 sobre reaproveitamento de materiais como papel, plástico, vidro e madeira. E se rendeu à arte ao concentrar seus estudos em pedaços de madeiras que sobram nas obras. Com o reaproveitamento e customização, peças como gamelas e telas com aplicação de fractais de Lichtenberg (cicatrizes, ranhuras causadas nas peças com descargas elétricas).

Ricardo acredita que com cores, formas e texturas, juntamente com outras técnicas, é possível criar arte. E as conexões, segundo ele, o levaram até onde está atualmente como artesão. Ele já participou de mostras como CASACOR e Morar Mais. “A ideia inicial era trabalhar com reaproveitamento e levar para dentro das casas da melhor forma possível. A arquitetura me trouxe um olhar que me permitiu ver o quanto há de desperdício em obras, e a partir dali resolvi trabalhar com esse reaproveitamento”, afirmou.

O mais importante para o artesão hoje é a conexão que existe entre as pessoas que participam do Projeto de Artesanato Sebrae, tanto entre os pares quanto entre todas as profissionais que trabalham no projeto. “Daniela Caixeta, Cynthia Bretas e Cynara Bretas, depois de avaliarem as minhas peças, abriram os caminhos para o meu trabalho. Logo depois vieram as exposições e depois de esforço e persistência, as coisas acontecem”, declarou. Ele complementou dizendo que estar na CASACOR é um momento ímpar, não apenas para vender as peças, mas para avaliar seu desempenho, conhecer profissionais e produtos e obter crescimento.

Ricardo Santiago desenvolve pesquisas desde 2015 sobre reaproveitamento de materiais

Generosidade e parceria

De trama em trama ele produz obras de arte manuais, produz e colhe a matéria-prima com as próprias mãos. O convidado especial do talk show foi o renomado artesão Juão de Fibra, morador de Novo Gama, conhecido por trabalhar com capim colonião. Ele produz diversas peças que vão desde cestarias, quadros e bolsas até mandalas, luminárias e painéis que estão em várias partes do país. Com cerca de 30 anos na caminhada do artesanato, Juão afirmou no bate-papo que é “cria do Sebrae” e há muito tempo tem sido agraciado com apoio, direcionamento e muito aprendizado.

Sempre humilde e generoso, ele é um dos artesãos considerados Top 100 do Brasil pelo Sebrae Nacional. E segue seu trabalho na arte ao levantar bandeiras para que os artesãos tenham cada vez mais incentivos e possam viver apenas da arte. E aproveitou para dar boas notícias: neste ano ele quem produziu os troféus para o Prêmio Goiás Sustentável, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. “Acabei de vir do Palácio das Esmeraldas e não perdi a oportunidade de falar com o governador para que o poder público possa investir ainda mais no artesanato produzido no estado”, afirmou.

Simples, mas com sabedoria política, com nome já escrito na história do artesanato em Goiás, Juão de Fibra foi firme ao dizer que os artesãos do estado precisam ter mais união e que há espaço para todos os tipos de arte. “Não precisamos concorrer com o colega de profissão. Precisamos levar conosco todos que estão ao nosso redor, na medida do possível dar a oportunidade que temos para os que estão chegando e sempre ter a generosidade de ajudar o outro”, lembrou.

Juão de Fibra possui um trabalho social na comunidade onde mora, próximo a Brasília, e ensina jovens que têm vontade de aprender uma profissão. Ele participa também de consultorias e contribui com a difusão de conhecimento da lida com o capim vegetal com parceiros artesãos.

Artesanato e economia criativa

Cynthia Bretas, do Sebrae, ressaltou a importância da parceria da instituição com os artesãos

A consultora e curadora do Programa de Artesanato e Economia Criativa do Sebrae Goiás, Cynthia Bretas, ressaltou que a instituição se realiza quando seus empreendedores da arte conseguem a cada dia galgar mais espaços e terem reconhecimento não só no estado, mas no país e fora dele. Para ela, é um sinal de que o trabalho está no caminho certo. “Se em uma mostra ou feira o artesão não vendeu, a arte que ele criou reverbera nas próximas missões, projetos e nas pessoas. E o artesanato só tem se potencializado em Goiás. Prova disso é que no ano passado o espaço da loja na CASACOR era de 20 metros quadrados e hoje estamos com cem metros quadrados e mais de 800 peças sedo comercializadas.”

Informações para a imprensa

Na sede do Sebrae: Adriana Lima – (62) 3250-2263 / 99456-2491

Na Regional Central | Goiânia: Agência Entremeios Comunicação / Adrianne Vitoreli – (62) 98144-2178

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