No início do século 16, os bandeirantes usavam o açafrão para indicar as trilhas das minas de ouro e temperar seus alimentos. Adentrando o Brasil profundo, chegaram na região onde hoje fica Goiás, especificamente na região de Mara Rosa, e no local plantaram as primeiras sementes dessa especiaria. Primeiro, para marcar as lavras, incorporou-se à vegetação nativa e transformou-se em uma riqueza, o ouro do cerrado goiano. Desde a sua colonização, no século XVIII, as regiões de Mara Rosa, Amaralina, Formoso e Estrela do Norte são conhecidas como o Sertão do Amaro Leite, em alusão ao nome de um dos seus desbravadores, que adentrou terras goianas na busca pelo eldorado e trouxe o açafrão.
De lá para cá, o açafrão da região de Mara Rosa ganhou não somente mercado como Indicação Geográfica (IG). E foi esse o reconhecimento dado à produtora da especiaria na cidade de Formoso, Magna de Fátima Leles Vieira Moreira Pimentel, durante o Connection Experience, que ocorre em Gramado, na Serra gaúcha, até domingo (21/05). O objetivo do evento é valorizar e reconhecer a identidade e qualidade dos produtos de um território específico brasileiro, os ‘terroirs’.
Coordenado pelo Sebrae de Goiás, que conseguiu uma comitiva do estado no evento, o açafrão de Mara Rosa e as joias de prata da região de Pirenópolis são destaque do evento, que na abertura, realizada na quarta-feira (17/05), receberam homenagem. Segundo o analista Ewerton César de Oliveira Filho, do Sebrae Goiás, a indicação geográfica possibilita maior rentabilidade para trabalhadores e produtores.
De acordo com dados do Sebrae nacional, o fato de um produto possuir a indicação geográfica possibilita um aumento médio de 20% a 50% na sua valorização no mercado. Para se ter uma ideia, somente sete IGs da Europa respondem por 27% do total de vendas, sendo que 60% dos produtos com IG da Europa são vendidos nos respectivos países de origem. Além disso, 86% das indicações geográficas no mundo estão em países desenvolvidos. Ao todo, só a Europa possui 3.300 produtos com indicação geográfica. No Brasil há apenas 102.
“O Sebrae Goiás trouxe representantes das indicações geográficas do açafrão e das joias de prata, pois essa troca e capacitação são importantes. Estamos trabalhando muito com o empreendedorismo local vinculado a indicação geográfica, pois é um ótima forma de gerar desenvolvimento para essas regiões, unindo turismo e produtos de qualidade”, ressalta.
Açafrão
O açafrão da região de Mara Rosa pertence à espécie Cúrcuma longa, originária da Índia. Sua produção é usada na indústria de alimentos como temperos, mostarda, condimentos, massas, molhos e margarinas. Porém, o produto possui substâncias oxidantes, antimicrobianas e corantes com aplicabilidade nas indústrias cosméticas, têxtil e farmacológica.
A produção anual da raiz é de cerca de cinco mil toneladas em 250 hectares de área plantada. De acordo com a Cooperativa de Produtores de Açafrão de Mara Rosa (Cooperaçafrão), estima-se que 200 agricultores (300 famílias) vivam da cultura, sendo gerados 800 empregos diretos. A região é responsável por cerca de 90% da produção goiana, representando 26% da produção nacional.
“A indicação geográfica e a participação nesse evento aqui em Gramado, no Rio Grande do Sul, é um marco para nós produtores”, ressalta a produtora de açafrão Magna de Fátima. “Agora, já podemos vislumbrar planos maiores como aumentar a produção, exportar. Isso tudo graças ao apoio do Sebrae Goiás, que tem proporcionado um outro horizonte com capacitação, participação em eventos, relacionamento com outras regiões. Antigamente, tínhamos que lidar com atravessadores, perdendo um pouco da rentabilidade. Agora isso não ocorre mais”, completa.
Joias de prata
De acordo com a Presidente do Conselho da Indicação Geográfica da Prata de Pirenópolis e proprietária do Pitoresco Café, Maria Delma, a região chegou a ter, na década de 1970 a 1980, quase 500 joalheiros. Hoje são 116 que prestam serviço para algumas das joalherias mais famosas do Brasil e do mundo.
“A indicação geográfica é importante para abrir portas e novas fronteiras para o nosso produto que é altamente qualificado. A IG agrega valor para quem vende, mas para quem compra também”diz Maria Delma, que também foi homenageada na abertura do Connection Experience. “Pirenópolis tem 300 anos, nasceu no ciclo do ouro,no Rio das Almas. Essa região tem uma história ligada ao que fazemos. E essa parceria com o Sebrae Goiásé importante, pois possibilita colocar nosso produto em mercados que há bem pouco tempo não imaginávamos. Recentemente, participamos de um evento em parceria com embaixadas. É de extrema importância”, acrescenta.
A relação da região com a produção de joias de prata teve início na década de 1970, com a instalação de artesãos, nas proximidades de Pirenópolis, que ensinaram aos moradores seus ofícios e habilidades de ourivesaria. A matéria-prima utilizada na produção das peças é adquirida através da reciclagem da prata encontrada em resíduos eletrônicos como: placas de computador e equipamentos hospitalares, pois ao contrário do que muitos pensam não há extração de prata na região. O design das joias fica a cargo de cada artesão, que podem utilizar de diversas referências para se inspirarem, inclusive a cultura e vegetação do local. Essa diversidade de estilos contribui para gerar uma Indicação Geográfica mais forte e valorizada.
O território da Indicação Geográfica se estabelece dentro dos limites do município de Pirenópolis, Estado do Goiás, localizado na Zona do Planalto, se limitando ao norte com Vila Propício e Goianésia, ao oeste com Jaraguá e Jesúpolis, ao sul com Pretolina e Anápolis e ao leste com Abadiânia, Corumbá de Goiás e Cocalzinho de Goiás.
Para receber o selo da Indicação Geográfica, as joias necessitam seguir alguns critérios, como: as etapas de produção (fundição de metais, polimento, montagem, acabamento) devem ser executadas exclusivamente pelos artesãos, a produção necessita ser totalmente artesanal e utilizar os materiais específicos definidos no caderno de especificações: prata de lei, gemas naturais, materiais naturais (coco, cerâmica e sementes). Os produtos comercializados são brincos, anel, pulseira, colar, tornozeleira, pingente, bracelete, além de piercings, grampos para cabelo e coroas para noivas.
Indicação geográfica
Segundo o Governo Federal, “o registro de Indicação Geográfica (IG) é conferido a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de os distinguir em relação aos seus similares disponíveis no mercado. São produtos que apresentam uma qualidade única em função de recursos naturais como solo, vegetação, clima e saber fazer (know-how ou savoir-faire).”.
O marco legal das Indicações Geográficas no Brasil é a Lei da Propriedade Industrial (nº 9.279/1996), que regula os direitos e obrigações sobre propriedade industrial e intelectual no Brasil.
Atualmente, sua regulamentação segue a Portaria INPI/PR nº 04/2022, que estabelece as condições para o registro das IGs. O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) é a instituição que concede o registro legal de IG no país.
Mais que um selo, a indicação geográfica para os produtores de açafrão e joias de prata tem garantido desenvolvimento e aumento da renda através da cultura do empreendedorismo através do apoio do Sebrae de Goiás.
Informações para a imprensa
Na sede do Sebrae: Adriana Lima – (62) 3250-2263 / 99456-2491
Na Regional Central | Goiânia: Agência Entremeios Comunicação / Adrianne Vitoreli – (62) 98144-2178
Siga-nos em nossas redes sociais: Instagram, Facebook, Twitter, YouTube e LinkedIn