Em um encontro histórico que reuniu lideranças quilombolas, agentes públicos e representantes do Sebrae Goiás, a comunidade Kalunga do Engenho II, localizada na Chapada dos Veadeiros, em Cavalcante, no Nordeste Goiano, consolidou seu papel como referência nacional em turismo de base comunitária. A visita da comunidade quilombola de São Domingos, que fica situada na cidade de Paracatu (MG), marcou um momento de troca de experiências e aprendizado sobre turismo de base comunitária, demonstrando o potencial transformador do turismo quando aliado à preservação cultural e ambiental. O evento foi organizado em parceria entre Sebrae Goiás e o Sebrae Minas e contou com a presença de lideranças quilombolas de Minas Gerais. A roda de conversa serviu como espaço para a troca de saberes, experiências e desafios relacionados à preservação cultural e ao desenvolvimento econômico sustentável por meio do turismo.
O Quilombo Kalunga, reconhecido nacionalmente por suas práticas sustentáveis e gestão comunitária, abriu as portas para compartilhar sua trajetória de sucesso com os visitantes mineiros. Através de rodas de conversa, visitas guiadas e momentos de interação, os kalungas apresentaram suas experiências em organização comunitária, desenvolvimento de produtos turísticos e preservação do patrimônio cultural e natural.
O turismo de base comunitária no Quilombo Kalunga é resultado de anos de luta e organização. A comunidade, através da Associação Kalunga Comunitária do Engenho II, desenvolveu uma ampla gama de atividades turísticas, desde hospedagem em casas de família até trilhas ecológicas e experiências gastronômicas. Todo o processo é pautado pela participação da comunidade, garantindo que os benefícios sejam distribuídos de forma equitativa.
A comunidade Kalunga do Engenho II, que tem se destacado nacionalmente pela sua gestão comunitária do turismo, recebeu o Prêmio Nacional de Turismo em 2023, concedido pelo Ministério do Turismo. Essa conquista é resultado de anos de organização, capacitação e empenho em desenvolver o turismo de maneira sustentável, sempre respeitando as tradições e a identidade quilombola. O quilombo, hoje, serve como referência para outras comunidades do Brasil que buscam implementar o turismo como fonte de renda sem comprometer seus valores culturais.
A visita da comunidade de São Domingos, que busca iniciar seus próprios projetos turísticos, demonstra a importância de compartilhar conhecimento e experiências entre as comunidades tradicionais. Ao conhecer de perto o modelo do Quilombo Kalunga, os visitantes puderam identificar oportunidades e desafios para a implementação de iniciativas semelhantes em suas próprias comunidades.
Um dos aspectos mais destacados durante o encontro foi a importância da sustentabilidade e da preservação cultural para o sucesso do turismo de base comunitária. Os Kalungas demonstraram como é possível conciliar o desenvolvimento econômico com a proteção do meio ambiente e a valorização das tradições ancestrais. A criação de uma reserva ambiental ao redor da Cachoeira Santa Bárbara é um exemplo concreto do compromisso da comunidade com a preservação da natureza. Essa iniciativa garante a qualidade da água, a conservação da biodiversidade e a proteção de um dos principais atrativos turísticos da região.
O Sebrae Goiás, que há anos tem apoiado o desenvolvimento do turismo no território Kalunga, esteve presente, representado por seu analista Charles Dumaresq. “Tivemos um dia muito bom e produtivo. Recebemos o pessoal do Quilombo São Domingos, de Paracatu, Minas Gerais, que veio juntamente com o Sebrae-MG para vivenciar um pouco, respirar e conhecer as melhores práticas que estão sendo desenvolvidas aqui com base no turismo de base comunitária, no Quilombo Kalunga Engenho II. Eles participaram de diversas atividades para conhecer essa experiência como um todo, que hoje é reconhecida nacionalmente. Somos o primeiro lugar em turismo de base comunitária a nível nacional, o que nos dá grande visibilidade para outros estados e quilombos. Estamos sempre recebendo grupos interessados nesse desenvolvimento. Dentro desse contexto, com o programa ‘Agente de Roteiros Turísticos’, estamos elaborando a Rota Kalunga, e um dos produtos desse roteiro é justamente a roda de conversa, para que visitantes, assim como grupos que venham conhecer o território, possam compreender não só as belezas naturais, mas também toda a parte cultural e o desenvolvimento local, desde o início do trabalho com turismo até os dias de hoje”, disse.
Um dos pontos que o Quilombo São Domingos destacou foi a questão da sustentabilidade local, algo que já é trabalhado há algum tempo no território, que hoje é reconhecido como o Sítio Histórico Quilombo Kalunga. Eles enfrentam muitas lutas em Minas Gerais, principalmente pela peculiaridade de estarem localizados a apenas 3 km do centro de Paracatu, ao lado de uma grande mineradora, além de outros problemas sociais, ambientais e econômicos relacionados à exploração. A conscientização já está muito enraizada, e a luta pela preservação do território dura várias décadas. Buscamos evitar grandes empresas exploratórias, especialmente de mineração, o que nos permite preservar as belezas naturais e as riquezas de sustento, como a água, o plantio e as terras.
O encontro entre as comunidades quilombolas Kalunga e São Domingos representa um marco importante para o desenvolvimento do turismo comunitário no Brasil. Ao compartilhar experiências e conhecimentos, as comunidades fortalecem suas identidades, geram renda e contribuem para a preservação do patrimônio cultural e natural do país.
Com o apoio de instituições como o Sebrae e a valorização crescente do turismo sustentável, o futuro do turismo de base comunitária é promissor. Ao visitar o Quilombo Kalunga, turistas de todo o mundo têm a oportunidade de vivenciar uma experiência autêntica, contribuindo para o desenvolvimento de comunidades tradicionais e para a preservação do nosso planeta.
De acordo com o consultor do Sebrae Goiás João Bitencourt Lino, a proposta, neste momento, é realizar uma roda de conversa entre anciões, gestores e membros da comunidade, para que possam tirar dúvidas e aprender mais sobre a história e a cultura local. Ele lembrou que o Sebrae Goiás tem um programa chamado ‘Rede de Agentes de Roteiros Turísticos”, do qual o Quilombo Kalunga e a comunidade do Engenho II fazem parte. “A intenção é justamente auxiliar e colaborar no sistema de gestão, desenvolvimento de novas experiências e produtos, trabalhar a informação e a monitoria. O Sebrae está atuando com a comunidade há cerca de dois anos, retomando uma parceria de longa data com os kalungas, que começou em 2003 ou 2004. Esse processo é muito importante para fortalecer o empreendedorismo. A comunidade do Engenho II tem uma ampla cadeia de serviços, e o objetivo é multiplicar isso para outras comunidades do território. O trabalho inclui uma série de ações e atividades voltadas a fortalecer o que eles têm de mais valioso: o turismo de base comunitária e a gestão comunitária. A ideia é promover as experiências além dos atrativos naturais, oferecer capacitações, trabalhar a gestão de segurança e auxiliar na melhoria contínua do turismo”, destacou.
O líder comunitário da Comunidade Kalunga Engenho II e conselheiro geral de todas as comunidades kalungas, Sirillo dos Santos Rosa, ao falar sobre a sua história de luta em prol da comunidade e sobre como tudo começou, enfatizou o seguinte: “Tivemos uma reunião com o juiz da 5ª Vara Itinerante. Ele confirmou para nós que tínhamos o direito de reivindicar todas as terras que pertenciam aos nossos antepassados. Também nos encontramos com o movimento negro de Goiânia, o movimento negro urbano, que na época era representado pela Ivana Leal. Ela nos guiou lá em Goiânia. Já deixamos marcada uma reunião para quando voltássemos. Assim que chegamos, marcamos essa reunião aqui. Na época, o barracão era apenas um local simples. Chegando aqui, fiz a reunião para passar à comunidade o que eu tinha ouvido lá. Ela marcou um dia para voltar, que foi 10 de julho. Ela veio, mas não me lembro exatamente o ano. No dia que ela marcou, ela chegou, e realizamos uma reunião para que a comunidade escolhesse uma liderança. Éramos cerca de setenta pessoas, e fui eleito por unanimidade”, lembrou.
A partir desse encontro, espera-se que as comunidades de São Domingos e Kalunga continuem a fortalecer suas parcerias, desenvolvendo juntas projetos que valorizem suas histórias e tradições. O Sebrae, tanto em Goiás quanto em Minas Gerais, continuará a desempenhar um papel fundamental no apoio a essas comunidades, oferecendo capacitação, suporte técnico e acesso a novos mercados.
A analista técnica do Sebrae Minas, Rhayssa Neto, destacou que todos sentiram-se muito inspirados por conhecer o trabalho realizado na região. “Isso nos fortaleceu ainda mais como associação e como quilombo, ao conhecer sua associação e ver o que já estão realizando para que o turismo dê certo. Nosso objetivo é aplicar essas práticas na nossa realidade, de acordo com nossos moldes, para que também tenhamos sucesso. Estamos trabalhando para implementar o turismo de base comunitária em nosso município, onde já existe turismo gastronômico e histórico-patrimonial, mas agora queremos expandir com o turismo de base comunitária em Paracatu”, concluiu.
INFORMAÇÕES PARA A IMPRENSA
Na sede do Sebrae: Taissa Gracik – (62) 99887-5463
Na Regional Entorno do DF/Nordeste | Posse: Agência Entremeios Comunicação / Renato Feitosa – (61) 99947-1248
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