Agência Sebrae de Notícias

Na quietude do seu ateliê, cercado de pedaços de madeira que aos olhos comuns seriam descartados, José Cambota, mais conhecido como Mestre Cambota, segue esculpindo o tempo. Aos 84 anos, o artesão nascido da lida bruta da construção civil, onde foi servente, pedreiro e mestre de obras por 47 anos, reconfigura o ofício de edificar. Agora não mais concreto e tijolo, mas símbolos e afetos.

Foi somente após a aposentadoria, aos 60 anos, que a madeira tornou-se matéria-prima de sua existência. Sem pressa, com ferramentas simples como um canivete, uma serrinha de mão, um serrote, ele passou a criar mais de 85 tipos diferentes de peças, em sua maioria sacras. São quadros da Santa Ceia, esculturas de Nossa Senhora, Divino Pai Eterno, Nossa Senhora Aparecida, crucifixos de todos os tamanhos e presépios. Outras peças se alinham a representações da alma goiana como quadros de Cora Coralina, Cavalhadas de Pirenópolis e animais do Cerrado. “Cada obra é única, exclusiva porque a madeira da natureza nunca é igual”, explica o artista.

A madeira que Cambota talha não é só matéria: é memória. Sua arte é uma costura entre fé e chão, entre o mistério sagrado e as histórias de um povo. Amigo de nomes como Antônio Poteiro e Frei Confaloni, ele compartilhou com eles não apenas afinidades estéticas, mas também a crença no poder da arte como redenção, como tradução do que não se diz com palavras. “Como católico, tento reproduzir as principais cenas da história e tenho atualmente mais de 600 crucifixos diferentes. Como goiano de Guapó, consigo ver em pedações de troncos animais e símbolos do nosso estado”, conta.

Sebrae Goiás

Cambota foi o primeiro artesão a ser atendido pelo Sebrae Goiás e participou de cursos, consultorias, missões em feiras para acesso a mercado e foi o fundador da Feira do Cerrado, que acontece aos domingos pela manhã no Parque da Criança, no Jardim Goiás, em Goiânia. “O Mestre é uma inspiração para todos os artistas, pois representa uma lição de persistência, paixão e entrega. Suas obras não se limitam a uma prateleira porque carregam sentimentos que transcendem o tempo e tocam cada pessoa de forma única. Enquanto houver madeira, haverá poesia em suas mãos”, analisa a gestora do Projeto de Artesanato Estadual do Sebrae Goiás, Daniela Caixeta.

Suas obras já cruzaram oceanos e encantam colecionadores ao redor do mundo. Até o Papa Francisco recebeu um dos seus crucifixos por meio do bispo de Goiânia, Dom João Justino de Medeiros Silva, que esteve em Roma. “Fiquei emocionado quando recebi a foto da entrega do meu presente ao papa e agradeço muito por ele ter recebido antes de partir”, lembra Cambota, que já produziu painéis para igrejas em Goiânia, como na Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos.

A artista goiana Tuka Pereira descreve a arte de Cambota como genuína. “Os colecionadores nacionais e internacionais que ainda não possuem uma obra do Mestre Cambota estão perdendo a oportunidade de ter peças de um artista plástico singular, escultor da fé e da identidade popular, que faz do subjetivo escultura; que cria beleza com o que sobra; que vê no nó da madeira uma chance de revelar o invisível. Um artista de alcance universal e com alma regional”, ressalta.

Depois de 47 anos na construção civil e 24 anos como artista plástico, Mestre Cambota conta que agora alterna parte do tempo na produção das peças, sem pressa, parte com a família, e também prioriza o descanso, em sua receita própria de felicidade.

SERVIÇO

Mestre Cambota

Instagram: @mestrecambota41

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