Por Tauana Schetini, Carla Gomes e Leidiana Batista
Seja tinto, branco, rosé ou espumante, desfrutar de um bom vinho é muito mais do que apenas degustar uma bebida. É uma experiência completa que envolve todos os sentidos, desde o momento em que você abre a garrafa e sente o primeiro aroma até o último gole, que deixa um sabor inesquecível. Além disso, o vinho é uma celebração de encontros, risadas e memórias, que precisa ser lembrado nesta terça-feira (22), quando é celebrado o Dia do Enólogo.
Cada taça apreciada, cada aroma que encanta e cada sabor que desperta as emoções só são possíveis graças ao trabalho dedicado do enólogo. É ele quem transforma uvas em histórias e cuida de cada detalhe do processo, desde a escolha do terroir (ambiente de cultivo) perfeito até o momento exato de engarrafar a safra.
Os enólogos são exatamente os criadores do vinho, responsáveis por todas as etapas de elaboração da bebida, desde as condições do clima, a escolha do solo, da variedade de uva, os métodos de colheita e plantio, fermentação, engarrafamento e envelhecimento. Geralmente são graduados em agronomia ou enologia, às vezes ambos, e dominam áreas diversas como geologia, biologia, estatística, física e química.
E para que eles façam um excelente vinho, a produção das uvas também precisam ser de qualidade. E quando se fala em plantação de uva vem logo à mente o cultivo grande de uma parreira em pleno Sul brasileiro. Porém, nos últimos anos, instituições como a Embrapa têm desenvolvido pesquisa para extrair o melhor das plantações de videiras nas regiões mais quentes como o Centro-Oeste e Nordeste. O cenário mais quente é tão propício para o cultivo da planta que atualmente o estado que mais planta a fruto no país é Pernambuco, de acordo com levantamento do IBGE de 2023.
Esse fato é confirmado pelo enólogo Marcos Vian, morador de Bento Gonçalves que atende a Vinícola Vinhedos do Cerrado, localizada em Ipameri, no Sul Goiano. De acordo com ele, a cultura da videira tem melhores resultados em climas mais secos, desde que tenha irrigação para fornecer o mínimo de água necessário. “Importante salientar que temos dias quentes, e temperaturas amenas na parte da noite. Este gradiente de temperatura é muito favorável para a produção das uvas. Outro fator favorável são as altitudes mais elevadas do planalto central, que aumentam a radiação ultravioleta e contribuem para produção de uvas mais sofisticadas”, explica. “Essa região foi a última a começar essa produção de vinho e vem nos surpreendendo com a qualidade e as características únicas”, enalteceu.
DESTAQUE PARA GOIÁS
Ainda que de forma tímida, Goiás começa a despontar no mercado pela qualidade dos vinhos. Em 2014, o estado tinha apenas 18 empresas de produção do produto registradas, de acordo com dados da Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg). Atualmente, com o crescimento deste número em cerca de 300%, o estado tem 65 empreendimentos nesse setor.
Outro cenário importante nesse contexto e que tem feito a diferença para firmar a marca de bons vinhos em solos mais quentes são as rotas turísticas. Em Goiás, temos a iniciativa da “Rota dos Pirineus: queijos e vinhos de Goiás”. O projeto é uma ação conjunta entre o Sebrae Goiás, Goiás Turismo, Comissão de Turismo da Assembleia Legislativa, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), empresários e as prefeituras de Cocalzinho, Corumbá de Goiás e Pirenópolis. Além disso, a “Rota Além das Águas” que abrange as cidades de Caldas Novas, Rio Quente e Piracanjuba, também contempla uma viticultura que é a Fonte Viva, que vem se preparando tecnicamente para a produção de vinhos.
A especialista em enoturismo Juliana Carvalho, que atua como consultora de turismo no Sebrae Goiás, explica de forma clara a diferença entre vinhedos e vinícolas, fundamental para entender o contexto das rotas. Segundo Juliana, os vinhedos são locais focados no cultivo das uvas, enquanto as vinícolas são as propriedades onde o processo de produção do vinho acontece.
Na Rota dos Pireneus, atualmente, encontramos duas vinícolas e dois vinhedos. O Vinhedo Girassol e a Vinícola Caliandra, que são abertos à visitação, proporcionam uma experiência completa, desde o cultivo das uvas até a degustação dos vinhos. “O enoturismo aqui na região está em plena ascensão. Nós temos vinícolas e vinhedos estruturados para receber turistas, oferecendo não só os vinhos, mas uma imersão completa na cultura local”, afirma.
Todo esse esforço de entidades tem surtido efeito, e o cultivo e o mercado na região do Cerrado têm crescido gradativamente, ano após ano, com três aspectos positivos. O primeiro refere-se às altas temperaturas que aceleram o amadurecimento da fruta e possibilitam até duas colheitas por ano. A poda dupla muda o ciclo natural da planta e faz com que ela amadureça mais rápido. O segundo é o teor de açúcar da uva que, no Centro-Oeste, é bem mais adocicada, também devido a pouca chuva e as altas temperaturas. E o último ponto é que a fruta tem o teor alcoólico impedindo a necessidade de outros recursos para atingir a graduação desejada.
APRIMORAMENTO DA UVA
A cultura da uva no estado de Goiás já existe há algum tempo, mas ela é considerada uma cultura nova, que tem ganhado espaço nos últimos anos. “Em 2021, o Senar GO, tendo em vista esse crescimento, introduziu no seu portfólio o curso de cultivo de uvas. É um curso bastante completo, que envolve desde a origem da planta, as principais variedades, tanto de enxerto, quanto de porta enxerto, métodos de propagação e instalação da cultura”, afirma o engenheiro agrônomo, doutor em fitotecnia, e instrutor do curso de Cultivo de Uvas, do Senar GO, dr. Matheus Elache Rosa. Ele explica que também são envolvidos os tratos culturais que envolvem as podas. “É um curso bastante completo, que vem com propósito de capacitar pessoas do meio rural e também do meio urbano para ter uma melhor colocação no mercado de trabalho”, completa.
Ainda conforme Matheus, o curso pode ser realizado em qualquer propriedade rural. “Pode ser em uma viticultura ou em uma vinicultura, o local é onde tiver pessoas que tenham interesse em participar desse curso. É um curso que vem sendo solicitado cada vez mais, com mais frequência, já que Goiás, além de expandir as fronteiras em direção ao cultivo de uvas de mesa, também ganha bastante espaço com a produção de uvas com foco em vinhos”, explica.
Para solicitar um dos cursos de capacitação do Senar ou esse curso do cultivo de uvas é só procurar um parceiro, a FAEG, os sindicatos rurais da sua cidade ou outros sindicatos que são parceiros.
A Embrapa também desenvolve uma pesquisa para aprimoramento da qualidade da uva no país. Em Goiás, a pesquisa é realizada na Serra das Galés, em Paraúna. Entre os pesquisadores estão o Dr. João Dimas Garcia Maia, especialista em melhoramento genético vegetal; a Dra. Patrícia Silva Ritschel, especialista em genética e melhoramento de plantas; e Dr. Mauro Celso Zanus, especialista em Enologia participa do programa Melhoramento Genético Uvas do Brasil.
Os pesquisadores criaram diferentes tipos de materiais como porta-enxertos, uvas para consumo in natura e uvas de processamento (sucos, vinhos e espumantes). “Novas seleções para estes segmentos com potencial para serem novas cultivares são avaliadas em diferentes polos geográficos de produção através de contratos de parcerias (cinco anos) em parcelas de 30 a 50 plantas. Na Serra das Galés foram testadas na primeira etapa duas seleções para vinhos brancos aromáticos e mais uma seleção de uva tintureira para elaboração de suco e vinho de mesa. Deste trabalho, destacou-se uma seleção para vinhos brancos e uma tintureira para elaboração de suco”, explica Dr. João Dimas.
Ainda conforme o pesquisador, após esse processo na Serra das Galés, houve ampliação de área da seleção de uvas brancas para produzir uma maior quantidade de uvas e possibilitar a elaboração de vinhos em escala semi-comercial, em tanques de inox adequados a este volume. “Foram elaborados 1.530 litros de vinho e o produto será submetido à análise química e sensorial para avaliação da qualidade do produto. Degustações preliminares mostram que o vinho da safra de inverno se apresenta com excelente coloração, aroma fino e paladar equilibrado, indicando que as condições de solo e clima da região foram adequadas à maturação das uvas ”, relata Dimas.
Na segunda etapa, iniciada em 2024, foi implantada nova área de teste, mais oito seleções, duas viníferas tintas, três híbridas tintas (com dupla finalidade), três híbridas brancas (com dupla finalidade) e mais dois clones da uva Moscato Branco. Ainda serão realizadas avaliações agronômicas, a elaboração e avaliação sensorial de sucos e vinhos para a definição de futuras cultivares e contribuir para a diversificação de produtos da Vinícola e, posteriormente, disponibilização aos viticultores de toda a região.
PRODUÇÃO DE UVA
De acordo com a Organização Internacional das Vinhas e do Vinho, o Brasil é o 15° maior produtor de vinhos no mundo e o 14° produtor de uvas. Se o Nordeste ganha no plantio de uvas, o Sul lidera a produção do vinho, mas esse mercado começa a despontar em outras regiões e, entre 2020 e 2021, a fabricação de vinhos e espumantes cresceu 30% e a exportação aumentou 58%.
A produção brasileira de uvas foi de 1.721,5 mil toneladas em 2023, com alta de 2,4% em relação a outubro, e de 14,6% ante 2022. Em novembro do ano passado, a safra foi impactada pela alta de 10,1% na produção de Pernambuco, segundo maior produtor do país. A área colhida aumentou 10,2%. O perímetro irrigado de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) concentra a produção da uva fina de mesa, com foco na exportação e, na última década, também no mercado interno.
Segundo levantamento sistêmico da produção agrícola do IBGE, a área em hectares de plantação de uva foi de 75.973 hectares em 2023. a previsão para 2024 é de 76.402 ha. Porém, a previsão é que a produção caia de 1.719.630, em 2023, para 1.483.633 este ano. Uma variação de -13,5%.
Apesar da queda, ainda conforme levantamentos do IBGE sobre a produção da uva no Brasil, o valor da produção no país tem incrementado o mercado nacional e, em 2023, foi de R$ 5.308.250. O destaque ficou para Pernambuco, que movimentou R$ 1.953.871 no mercado, seguido pelo Rio Grande do Sul, com R$ 1.761.272. São Paulo ocupa a terceira posição do valor de produção, sendo R$ 659.249. Goiás ainda não está nas primeiras colocações, com R$ 13.215 mil, mas tem se destacado no mercado pela qualidade da fruta e vinhos.
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