Mãos que tecem e grupos que contam a sua história por meio da dança, da gastronomia e do artesanato. Tradições passadas dos pais para os filhos que até hoje ainda são o ponto chave da descoberta do seu valor pela luta de um povo escravizado que trilhou sua liberdade. A conquista dessa liberdade veio após muitas lutas, somente com a Lei Áurea em 13 de maio de 1888.E dentre a ânsia de ser livre, o surgimento dos quilombos é parte importante da história do povo africano e seus descendentes. Em Goiás, esses locais surgem como resistência cultural e passam a integrar rotas turísticas do estado.
De acordo com o “Censo 2022 Quilombolas: Primeiros resultados do universo”, no país a população quilombola é de 1.327.802 pessoas, ou 0,65% do total de habitantes em 1.696 dos 5.570 municípios do Brasil. Ainda de acordo com o Censo, em Goiás a presença dos quilombolas representa 3,39% do total, o que quer dizer uma população de 44.957 quilombolas.
Esses locais, historicamente, abrigavam aqueles que davam seu grito de liberdade antes da carta de alforria. Símbolo de resistência, os quilombos até hoje são mantidos para mostrar para o mundo esse povo que demonstrou sua força diante de todas as adversidades.
A primeira capital do estado, hoje Cidade de Goiás, também é representada neste cenário por um quilombo reconhecido pela Fundação Cultural Palmares. O Alto Santana ganha esse título em 2017 e, desde então, busca se estruturar.
Segundo a vice-presidente do quilombo, Fernanda Farias, o reconhecimento auxiliou para a comunidade se unir mais e buscar soluções coletivas para a melhoria da qualidade de vida e sustento das famílias integrantes. “Hoje nós trabalhamos em empresas para manter nosso sustento, mas nosso objetivo é que possamos nos sustentar com as atividades desenvolvidas no quilombo. É um sonho que acredito que teremos resultados muito positivos para o próximo ano com o projeto ‘Tem Quilombo na Trilha de Goiás’ já que o nosso foco será em torno do turismo local”.
Ainda conforme Fernanda, a Associação Quilombola do Alto Santana tem realizado iniciativas como feiras, rodas de samba e capoeira, folias, além da parte gastronômica e artesanato que faz com que gerem o sentimento de pertencimento, além de valorizar a memória e a cultura. Atualmente, em média, o Quilombo abriga 233 famílias.
Ciente dessa importância, a prefeitura de Goiás desenvolve uma série de iniciativas por meio do Plano Municipal de Turismo (PMT), que foi desenvolvido pelo Sebrae junto com a gestão pública e a sociedade local, para valorizar a comunidade.
O projeto “Tem Quilombo na Trilha de Goiás” é uma parte do plano que está em seu primeiro ano de execução e com previsão de implantação dos projetos em quatro anos. Outro ponto do plano é o Novembro Negro, que tem dentro da sua programação a feijoada com apresentações culturais. A celebração é realizada pelos integrantes do quilombo no dia 20 deste mês para rememorar a data em homenagem a Zumbi dos Palmares e o cortejo em louvor a Oyá, orixá ligado às religiões de matriz africana, no dia 1º de dezembro.
Ainda na programação do Novembro Negro acontece a exposição “135 anos Leodegária de Jesus – entre Lyrios e Orchideas, a Passara Ferida”, no Museu das Bandeiras, e que vai até o dia 30 de dezembro. E o show no Mercado Municipal que aconteceu no dia 16 de novembro com o tema “Virada da Consciência Negra”.
Apesar do feriado nacional passar a vigorar este ano, o Dia da Consciência Negra na cidade de Goiás está em seu segundo ano. A secretária Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico, Suzana Magalhães de Almeida, abordou a importância do PMT. “Nós saímos na frente com esse feriado porque para a gente que tem uma cidade construída em cima do suor dos negros nada mais coerente do que celebrar esse dia com uma programação voltada para eles. E o plano nesse processo é uma forma de destacarmos tradições que estavam sendo esquecidas, como o trabalho artesanal dos quilombolas e a festa a Oyá”, destaca.
O secretário Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade e Equidade Étnico Racial de Goiás, Lázaro Ribeiro Lima, disse que essas ações são uma forma de reparação histórica aos negros. “A criação da secretaria já é uma reparação. As iniciativas que buscam resgatam a história dos quilombolas também é uma forma de valorizarmos essas comunidades. Estamos trabalhando essa questão nas escolas para que as crianças conheçam a história desde pequenos. Outro ponto que vale destacar é que as denúncias formalizadas na secretaria têm aumentado. As pessoas estão lutando mais por seus direitos”, finaliza o secretário.
Representatividade
A iniciativa de quilombos como o caso de Goiás mostra a importância de políticas públicas aliadas a iniciativa de instituições como o Sebrae e a sociedade civil na busca por mais autonomia da população que, ao longo dos anos, foi marginalizada.
O Laboratório de Sociologia do Trabalho (Lastro), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que realiza uma pesquisa que será finalizada em março de 2025, mostra em dados preliminares que trabalhadores por conta própria configuram 21,5 milhões de pessoas, o que corresponde a 25% da força de trabalho em todo país. Deste total, cerca de 53% são de pessoas negras, de modo que, os homens negros correspondem a 35% e as mulheres negras a 20%.
Ainda nesse cenário, as mulheres negras possuem menor remuneração em relação aos demais grupos. O objetivo do projeto é documentar, em perspectiva interseccional, os efeitos das desigualdades estruturais de classe, gênero, raça e região sobre os 25 milhões de trabalhadores por conta própria no Brasil em 2023.
E se antes a busca era pelo fato de ser reconhecido como cidadão, atualmente a batalha toma dimensões para mostrar para que a população seja mais empoderada no país.
INFORMAÇÕES PARA A IMPRENSA
Na sede do Sebrae: Taissa Gracik – (62) 99887-5463 | Kalyne Menezes – (62) 99887-4106
Na Regional Oeste | São Luís de Montes Belos: Agência Entremeios Comunicação / Carla Gomes – (64) 99900-8603
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