Como homem e gestor, não falo a partir da vivência, mas do compromisso. Não sei o que é empreender em um ambiente com barreiras invisíveis devido ao gênero. Mas sei, com base em dados concretos e nas histórias que escuto todos os dias, que as mulheres empreendedoras sustentam uma parte vital da economia. Elas fazem isso enfrentando desigualdades e com menos acesso a recursos, redes e reconhecimento. E é exatamente por isso que é urgente dar visibilidade, estrutura e apoio às trajetórias femininas no empreendedorismo.
Em Goiás, mais de 350 mil mulheres empreendem. Quatro em cada dez o fazem dentro de casa, de acordo com dados da quinta edição do “Perfil da Empreendedora Goiana”, produzido pelo Sebrae e pelo Laboratório de Pesquisa em Empreendedorismo e Inovação (Lapei/FACE) da Universidade Federal de Goiás. Muitas vezes estas empreendedoras equilibram a gestão do negócio com o cuidado da família e da casa. Elas geram renda, criam soluções, movimentam comunidades.
O estudo também demonstra que apenas 39% das empreendedoras goianas têm CNPJ, e a maioria atua na informalidade, sem acesso pleno a crédito, capacitação ou proteção social. Essa realidade precisa ser enfrentada com seriedade, sensibilidade e ação institucional.
No Sebrae, entendemos que promover a equidade de gênero no ambiente empresarial não é favor, é dever. E esse dever se traduz em iniciativas como o programa Delas, que oferece capacitação, consultorias, mentorias e redes de apoio específicas para as empreendedoras. Também se concretiza em eventos como o “Delas – Mulher de Negócios”, que, nos dias 28 e 29 de março, reunirá mulheres de dentro e de fora do estado para trocar experiências, acessar conhecimentos e ampliar sua atuação no mercado.
Esses espaços não apenas empoderam, mas também iluminam. Eles revelam histórias que precisam ser contadas, ampliam horizontes e constroem novas possibilidades para quem, historicamente, teve menos acesso a oportunidades. Quando uma mulher empreende com apoio, ela muda não apenas sua própria trajetória, mas a de sua família, de sua comunidade, de toda uma rede ao seu redor.
Mais do que celebrar conquistas, é preciso reconhecer os obstáculos ainda presentes. A jornada empreendedora feminina segue marcada por assimetrias que vão do acesso à tecnologia à dificuldade de separação entre vida pessoal e profissional. A sobrecarga do trabalho doméstico e o preconceito velado ainda limitam o potencial de milhares de mulheres que, mesmo assim, seguem fazendo mais com menos. Mudar esse cenário é responsabilidade coletiva — e começa com lideranças comprometidas.
Cabe a nós, homens em posições de liderança, usarmos o alcance da nossa voz para criar pontes, abrir portas e reconhecer que ainda há muito a ser feito. Assumir esse compromisso é parte do papel que nos cabe neste processo de mudança. E, acima de tudo, é saber que apoiar mulheres não é falar por elas, mas criar as condições para que falem, ocupem espaços e liderem transformações.
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Artigo publicado no jornal O Popular.